O principal esforço de quem se movimenta na área do marketing será o de desafiar para inspirar a transformação positiva. Mais do que seguir o mercado, deveremos ter o propósito ético de o educar, aprendendo com ele todos os dias.
Longe de qualquer juízo de grandeza moral, coloquei a mim mesmo uma questão: o que poderão os marketeers aprender com os mais pobres, aqueles que vivem literalmente na rua? Qual a motivação de quem os ajuda, qual é o estado de espírito propício para se dar? Como é que isso poderá inspirar a liderança nas organizações?
Para os budistas ninguém é vítima do mundo, mas sim da forma como o percebe. Nas organizações passa-se exactamente o mesmo. Se eu tiver vinte e cinco milhões de dólares, o modo como os uso determina o seu verdadeiro valor. Qual é o autêntico valor do dinheiro para quem vive na rua? Empiricamente estimo que um dólar possa valer duas a três vezes mais para um sem abrigo que para um elemento da classe média.
Para o bem e para o mal, o pobre nada sabe sobre acumulação de capitais, de mais-valias, percepcionando o dinheiro apenas do ponto de vista funcional da troca, dia após dia, fazendo ele mesmo de analista, de executivo e de controller da sua própria actividade.
Mas o que mais me espanta é a interdependência dos Negócios. Realmente é espantoso como fui o dinheiro à escala global. Às vezes prefiro falar de energia monetária ou até mesmo de fluxo financeiros.
Reparem que na actual crise financeira que o despoletar do processo começou com a falência do grande banco Norte Americano mas no entanto ela já era de alguma forma esperada. Ela poderia ter acontecido antes de o colapso das hipotecas subprime nos Estados Unidos tê-la desencadeado, mas é importante sublinhar que era aguardada. "Um acidente à espera de acontecer", como disse Alan Greenspan, antigo presidente do Federal Reserve. E agora está a apossar-se de bancos, casas de investimento, hedge funds e especuladores – alguns estão apenas a perder enormes somas de dinheiro, outros estão indo para a bancarrota ou estão escalados para a venda a saldo. Onde e como esta crise termina é absolutamente imprevisível, mas ela já é muito séria.
A quase falência do banco alemão Sachsen LB, o qual teve de ser salvo da bancarrota com um crédito 17,3 mil milhões de euros, revelou que os bancos europeus possuem mais 500 mil milhões de dólares nos chamados activos apoiados por papel comercial, grande parte dos quais nos EUA em hipotecas subprime. O Northern Rock britânico, o qual em meados de Setembro viu os depositantes retiraram dois mil milhões de libras em poucos dias e forçou-o à bancarrota virtual, é apenas outro de muitos exemplos. Um fracasso na América também levou a Europa a enfrentar uma crise. O problema não está isolado.
Neste contexto, os bancos centrais terão problemas crescentes e as soluções que propõem, como no passado, serão absolutamente inadequadas, não porque as suas intenções sejam erradas mas porque é impossível regular uma economia complexa tão vasta – ainda menos hoje do que no passado porque não há mecanismo internacional para assim fazer. A internacionalização das finanças significou menos regulação do que nunca, e a regulação era muito pouco efectiva mesmo a nível nacional.
O sistema financeira global agora está fora de controle. A cobiça é desenfreada. As instituições internacionais existentes não podem mudar esta realidade.
De facto a crise financeira está longe de ter um fim e a interdependência dos negócios é hoje total.
Alberto Miguel