A história é simples. Quando se iniciou a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos, o Presidente dos Estados Unidos, William McKinley, teve necessidade de comunicar rapidamente com o comandante dos rebeldes cubanos, o General Garcia, que se encontrava algures nas montanhas de Cuba. Como não era possível comunicar por correio nem por telégrafo o Presidente mandou chamar Rowan e deu-lhe uma carta para entregar a Garcia.
Rowan pegou na carta e, sem perguntar onde estava o General, guardou-a numa bolsa impermeável junto ao coração. Quatro dias depois, chegava à costa cubana pela calada da noite, num pequeno barco. De imediato, iniciou a travessia de um país hostil percorrendo a pé montes e vales, entregou a carta a Garcia e saiu pelo outro lado da ilha em apenas três semanas.
De facto, para quem lê a história, parece tudo muito simples. Rowan recebe uma missão e, sem fazer perguntas, executa-a com total autonomia revelando excelente capacidade de iniciativa e espírito empreendedor.
Ao ouvir esta história num seminário sobre a qualificação ocorreu-me logo fazer um paralelo com o que se passa no dia a dia das empresas e das organizações portuguesas. Como estamos em termos de espírito empreendedor? Será que o aumento de qualificação dos portugueses contribui para sermos um país mais empreendedor?
Muito provavelmente, não. A este propósito convém lembrar o conceito de competência de Boterf. Ser competente, ou seja, agir com competência, como aconteceu com Rowan, é resultado da combinação: saber agir, querer agir e poder agir. Apesar reconhecida qualificação de Rowan para a missão, sem o seu espírito empreendedor a mesma não teria sido um êxito. Foi o seu “querer agir” que o levou a descobrir, a cada passo, o melhor caminho num terreno dominado pelo inimigo (poder agir).
Por maioria de razão, na actual sociedade em rede, em que a aprendizagem ao longo da vida é o desafio fulcral para todos os portugueses, não basta ter como objectivo a qualificação dos portugueses. Atribuir certificados de qualificação aos portugueses apenas prova que estes “sabem agir”. Não há qualquer garantia de que eles “possam agir” ou “queiram agir”.
Por outras palavras, para que os portugueses sejam capazes de levar a carta a Garcia é fundamental criar uma cultura empreendedora, com um ADN auto-programável (querer agir e aprender) constituído pelos genes da criatividade e da inovação.
“Os analfabetos do século 21 não são aqueles que não sabem ler nem escrever, mas sim aqueles que não sabem aprender, desaprender e reaprender.” Alvin Tofler
Texto escrito por Vitorino Seixas
Poucos comentários tenho para acrescentar a este excelente texto que, de uma forma tão simples e clara, nos mostra a diferença entre o conhecimento, a qualificação por evidenciação e certificação de competências.... Opsss!.. ou será de conhecimentos?!?!?
Por outras palavras não será que:
Competência = Empreendorismo + Conhecimento
Agora deixem-me adicionar mais uma citação de Peter F. Drucker
“Na sociedade e nas organizações de hoje, as pessoas trabalham cada vez mais com o conhecimento, mais do que com as competências. O conhecimento transforma-se a si mesmo. Torna-se obsoleto muito rapidamente. Os profissionais do conhecimento devem assumir a responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento e colocação no mercado de trabalho”
Por isso, nesta igualdade, sendo o empreendorismo extremamente importante (pois que também se aprende) é o conhecimento actualizado que é a componente mais crítica para as novas competências pois que cada vez mais rapidamente se torna obsoleto. Veja-se por exemplo um técnico de TI/SI...
Não esquecendo de desligar o som do Blog, oiçam agora uma entrevista com Alvin Tofler de cerca 25m sobre a importância de uma sociedade baseada no Conhecimento...
Alberto Miguel