O factor atitude, ponto crucial da competência organizacional, não depende exclusivamente de um conjunto de impulsos eléctricos cerebrais, de formalidades ou regras. Existe um grupo alargado de padrões não convencionais que constantemente interferem nas decisões humanas, tornando-se necessário agir a um nível mais íntimo. Contudo, tal não quererá dizer que devemos subalternizar a dimensão técnica, pelo contrário, pretendemos assegurar o seu fortalecimento.
Os computadores têm um elevado Quociente de Inteligência, conhecem as regras e conseguem segui-las sem erro. Mas, só o homem é capaz de questionar as referidas regras. Uma máquina, assim como um animal, trabalha dentro de uma lógica de “jogo finito”. A dimensão espiritual permite alargar as fronteiras de um “jogo infinito”, dando aos homens a capacidade de colocar em causa regras que eles próprios criaram. Esta é uma realidade que coloca um desafio inacabável à extensão tecnológica. Triste para os homens não será nunca que os computadores pensem como as pessoas, lamentável será que os homens pensem como os computadores.
Ao imaginarmos um marketing para a responsabilidade espiritual nas empresas propomos um conceito que se inscreve dentro da linha de entendimento do marketing relacional, não esquecendo que as organizações deverão estar focadas em valores, em estratégias,.., dependentes de hábeis negociadores, criativos, empreendedores, que saibam trabalhar sob pressão. Mas, ser-lhes-á isso possível na ausência da consciência de si mesmo?
Partindo desta questão surge um novo conceito de marketing que se propõe chegar à mais íntima dimensão do psiquismo humano, antecipando o caminho para um marketing de proximidade real. Na actualidade o indivíduo sente-se no mundo – não do mundo. Isto é, igualmente, o que acontece com aqueles que constituem o tecido relacional das empresas. O marketing de proximidade real enaltece a sustentabilidade das condições de reciprocidade, de aceitação e das transformações em si próprias, projectando-as em todos os seus públicos relacionais.
Dharma é para os budistas o que guia a mente, ou por outras palavras o que a precede. Pretende-se, no caso em mãos, estabelecer condições propícias para o homem que procura, em todas as relações, uma dimensão exclusiva/interior. Cabe pois ao Dharma Marketing aumentar a atracção, removendo os obstáculos mais íntimos, facilitando a interdependência aos que procuram o nexo que assiste à experiência empresarial. Apesar da riqueza material e do desenvolvimento tecnológico das organizações, falta algo estruturante à gestão actual. Para nós isso será a capacidade de alterar um mero trabalho numa vocação. Só este pensamento poderá unificar a experiência humana, de forma contextualizada e transformadora nas empresas. Infelizmente, a vocação não se encontra dentro da actual estrutura de valores da comunidade dos negócios.
O marketing tem vindo a evoluir na sua orientação, indo para além do produto, da venda, do mercado, do cliente,.. Assim, depois do marketing massificado, do marketing de segmentação, do marketing one to one,.., surge igualmente o marketing orientado para o Ser, onde o compromisso entre as empresas e todos aqueles com quem estas se relacionam é conseguido através de parcerias inclusivas. Procura-se um impacto significativo nos negócios, ou, pelo menos, dar às suas competências conotações mais amplas, no que respeita à empatia que leva à fidelização, através de benefícios (espirituais), transformadores de quem os produz, e consequentemente dos seus públicos relacionais. Este efeito introduz-nos num ambiente de elevada proximidade e confiança, garantindo relações mais transparentes, e consequentemente de maior prazo, aumentando o QEs (Quociente Espiritual) dos parceiros implicados.
No marketing de proximidade real a espiritualidade facilita a criação de uma imperceptível teia no entorno organizacional, pelo que o mundo das empresas deverá ser visto como um todo, polarizando positivamente as referidas relações. Esta procura só poderá existir como resultado de uma permanente e efectiva dinâmica integrada e reciprocamente complementar, da evolução económica, humana, social, se obviamente acompanhada de mudanças ao nível espiritual.
Estamos perante uma forma sustentada de revolução organizacional, já que passamos a perceber a realidade empresarial, do ponto de vista do paradigma quântico, tendo em conta a capacidade da consciência de todos os implicados interferir na criação da realidade. Já anteriormente Jung teria dado a sua contribuição para este entendimento ao apresentar a sua teoria da sincronicidade e do inconsciente colectivo.
Contudo, é na verdadeira origem destas ideias que vamos buscar a influência decisiva para o marketing de proximidade real. Referimo-nos ao budismo primordial e ao milenar conceito de interdependência.
Texto adaptado
Alberto Miguel