Na linha do post anterior deixo-vos aqui mais uma opinião sobre a crise financeira mundial que se vai tornando numa crise económica e social sem solução à vista, a não ser por uma efectiva cooperação entre estados e nações.
Atentem a parte deste artigo de:
Lucas Lautert Dezordi
Economista e professor Adjunto do Centro Universitário UNIFAE.
ldezordi@fae.edu
publicado na Revista Brasileira "Ideias" na sua edição de Fevereiro de 2009.
"O problema central da crise financeira mundial está em grande medida nas relações econômicas internacionais da China com o resto do mundo e em especial com os Estados Unidos seu maior parceiro comercial. O acúmulo de mais de US$ 1,8 trilhão de reservas internacionais pelo banco central da China foi obtido em grande medida por uma política artificial de manutenção da taxa de câmbio yuan em relação ao dólar norte-americano extremamente desvalorizado, estimulando o aumento nas exportações chinesas no mundo. Nos últimos cinco anos, as exportações cresceram em média 31% ao ano, em valores monetários fazendo com que o setor externo contribuísse com 21,5% do crescimento do PIB em 2007 que foi de 11,9%. Estimo que, neste ano, a economia cresceu 7,1% acima de sua tendência de longo prazo e convido o leitor para a seguinte análise na composição do PIB pela ótica da demanda agregada em dois períodos não muito distantes.
Em 1996, a economia chinesa apresentava as seguintes variáveis em porcentagem do PIB: o consumo das famílias representava 45,8%; gasto do governo 13,4%; formação bruta de capital fixo (compra de máquinas e equipamentos) 32,4%; formação de estoques de 6,4% e exportações líquidas de bens e serviços de 2%. Neste ano a abertura comercial (exportações + importações) em relação ao PIB foi de 32,5%. A economia crescia em média 10% ao ano e, após as crises da Ásia e Russa, a economia passou a crescer por dois anos consecutivos a uma taxa de aproximadamente 7,5% ao ano.
Em 2006, dados revisados mais recentes, a situação da economia asiática apresentava uma composição diferente. As variáveis em porcentagem do PIB mostravam a seguinte configuração: consumo das famílias 36,2%; gasto do governo 13,7%; formação bruta de capital fixo 40,8%; formação de estoques de 1,8% e exportações líquidas de bens e serviços de 7,5%. Neste ano, a abertura comercial (exportações + importações) em relação ao PIB foi de 63,7%. A economia está bem mais aberta e consequentemente muito mais acelerada do que há 10 anos.
A crise Americana de crédito, as recessões na Alemanha e no Japão estão desaquecendo rapidamente o comércio mundial e a China poderá registrar por pelo menos três anos consecutivos um crescimento do PIB de aproximadamente 7% ao ano. Em virtude dessas preocupações, o governo lançou um programa de expansão de gastos em infra-estrutura equivalente a US$ 586 bilhões, para ser usado até 2010 para impulsionar a demanda doméstica. Os gastos são expressivos e representam 17,3% do PIB, ou um gasto adicional anual de 8,6% que aliado à queda na taxa de juros irão amenizar a contração da atividade produtiva.
Porém, cabe ressaltar que essas políticas fiscais e monetárias expansionistas devem ser implementadas por um programa que intensifique as mudanças na administração da taxa de câmbio, com a finalidade de tornar o yuan uma moeda mais valorizada em relação aos seus grandes parceiros comerciais. Com isso, defendo uma política fiscal expansionista na economia asiática que venha gerar déficit em transações correntes. Com relação ao programa de expansão fiscal do novo governo de Obama, acredito que não será suficiente para restabelecer as fontes de crescimento mundiais, pois o efeito sobre o consumo doméstico será minimizado pelo elevado endividamento das famílias norte-americanas e os déficits externos em transações correntes irão se aprofundar tornando o comércio mundial mais desequilibrado e instável. Neste sentido, uma valorização da moeda chinesa aliado a uma política fiscal fortemente expansionista estimularão as importações chinesas dos produtos americanos e, assim, reativando o aparelho produtivo dos EUA. Se a China fizer isso, ela cresce. E, os Estados Unidos também.
Efetivamente, a economia mundial só irá crescer com um comércio internacional equilibrado e a economia chinesa deve deixar a sua taxa de câmbio flutuar para reativar o aparelho produtivo norte-americano e, assim, permitir que os mecanismos do mercado internacionais funcionem."
Sem mais comentátios
Alberto Miguel