O Dharma Marketing

No início da presente década Zohar e Marshall, dois professores da Universidade de Oxford (GB), completam o quadro geral da inteligência humana com o QEs (Quociente Espiritual), revelando a inteligência suprema do ser humano, o poder transformador do homem. O processo que deriva da Inteligência Espiritual une, integra e potencia o diálogo entre razão e emoção, indo mais longe, fornecendo um centro activo e outorgador de sentido, suportando a transformação ligada à sabedoria para lá da mente consciente, permitindo-nos mais do que a habilidade de seguir valores – a de criar a possibilidade de os ter.

Igualmente, cento e noventa e nove países, entre os quais Portugal, ratificaram durante o ano de 2005 a Declaração Universal de Bioética e Direitos Humanos (UNESCO), afirmando que “a identidade de um indivíduo inclui dimensões biológicas, psicológicas, sociais, culturais e espirituais”. Como poderiam os marketeers ser indiferentes à mais intensa das dimensões humanas: a espiritualidade?

Referimo-nos à dimensão que está além da racionalidade ou da lógica que permite ao homem seguir regras e estratégias (Quociente de Inteligência), estando, igualmente, além da emoção que reconhece padrões e constrói hábitos (Quociente Emocional). A dimensão espiritual possibilita o pensamento unificador, onde reside o potencial do princípio animador ou vital do ser humano (Quociente Espiritual). As questões sociais, culturais e psicológicas, assim como as questões ambientais têm merecido a atenção por parte de algumas das organizações mais responsáveis. Contudo, a dimensão espiritual do Homem, vista como o mais alto patamar da prosperidade integral, vem sendo esquecida, porque é muitas vezes confundida com a perspectiva religiosa. Desta forma se verifica o distanciamento da questão do auto-conhecimento em ambiente empresarial. O auto-conhecimento permite o despertar da consciência, tornando-nos capazes de escolhas mais assertivas e consequentemente mais satisfatórias e significativas.

Do ponto de vista conceptual o marketing espiritual tem vindo a perder sentido desde o tempo em que ágeis facilitadores espirituais como Joe Vidal ou mesmo Bob Proctor (O Segredo) confundiram marketing espiritual com terapias de auto-ajuda, programação neuro-linguística, ou mesmo com o marketing pessoal.. Apesar destas abordagens serem muito desejáveis, não podemos deixar de referir um certo abuso em volta do termo marketing, no que às questões espirituais diz respeito.

Ainda que de uma forma superficial, também o neuromarketing nos revelou um mundo demasiado complexo, trazendo de volta a necessidade de uma abordagem mais íntima às questões relacionais, ante a constante tensão entre impulsos eléctricos cerebrais, necessidades e desejos humanos. Aliás, muitos anos antes Schopenhauer já teria lançado o aviso ao afirmar que o homem pode, é certo, fazer o que quer, mas não pode querer o que quer. Estas circunstâncias, ao se afigurarem como não exclusivas da área comportamental, radicam-se, necessariamente, ao nível das mais subtis competências, ou seja, para além da simples condição físico-química do ser humano.

Mesmo o factor atitude, ponto crucial da competência organizacional, não depende exclusivamente de um conjunto de impulsos eléctricos cerebrais, de formalidades ou regras. Existe um grupo alargado de padrões não convencionais que constantemente interferem nas decisões humanas, tornando-se necessário agir a um nível mais íntimo. Contudo, tal não quererá dizer que devemos subalternizar a dimensão técnica, pelo contrário, pretendemos assegurar o seu fortalecimento. Os computadores têm um elevado Quociente de Inteligência, conhecem as regras e conseguem segui-las sem erro. Mas, só o homem é capaz de questionar as referidas regras. Uma máquina, assim como um animal, trabalha dentro de uma lógica de “jogo finito”. A dimensão espiritual permite alargar as fronteiras de um “jogo infinito”, dando aos homens a capacidade de colocar em causa regras que eles próprios criaram. Esta é uma realidade que coloca um desafio inacabável à extensão tecnológica. Triste para os homens não será nunca que os computadores pensem como as pessoas, lamentável será que os homens pensem como os computadores.

Ao imaginarmos um marketing para a responsabilidade espiritual nas empresas propomos um conceito que se inscreve dentro da linha de entendimento do marketing relacional, não esquecendo que as organizações deverão estar focadas em valores, em estratégias,.., dependentes de hábeis negociadores, criativos, empreendedores, que saibam trabalhar sob pressão. Mas, ser-lhes-á isso possível na ausência da consciência de si mesmo?

Partindo desta questão surge um novo conceito de marketing que se propõe chegar à mais íntima dimensão do psiquismo humano, antecipando o caminho para um marketing de proximidade real.

Texto do site: Dharma Marketing

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Aberto Miguel