Ética e Educação I

Os graves conflitos mundiais, como as guerras, as catástrofes provocadas pela acção humana, a destruição da natureza, os ataques que potenciam a morte de seres humanos, são actos de repúdio que nos fazem questionar: onde está a responsabilidade do Homem para com o seu semelhante? Onde está a postura moral ou ética? Para estas questões, é importante encontrar a definição do campo da ética, que pressupõe uma introdução à sua significação, tanto do ponto de vista filosófico como científico. Mas esta definição ficaria empobrecida se não se invocasse a moral como parceira, com uma especificidade muito concreta, mas que ainda suscita confusão entre estes dois conceitos. A antinomia existe, por isso a importância do seu estudo, nesta reflexão.

O homem como ser social, necessita de se reger por princípios, normas ou regras de comportamento, que se denomina de Moral. A sua origem etimológica, vem no latim mos, mores, entendido no conjunto de normas ou regras do comportamento humano, adquiridas por hábito ou conquistadas pelo ser humano, tem carácter prático imediato, visto que faz parte integrante da vida quotidiana das sociedades e dos indivíduos. Pressupõe coexistência de liberdade e de responsabilidade por parte do indivíduo ou do grupo. A Ética, tem origem etimológica em dois vocábulos, éthos (costumes, uso, maneira) e êthos (toca, residência, maneira de ser, carácter) e transcende a Moral, pois esta é considerada a teoria do comportamento moral dos seres humanos em sociedade ou seja a ciência da Moral. Faz uma reflexão filosófica sobre a moral, rectifica e clarifica os comportamentos morais efectivos. A ética é construída por uma sociedade com base nos valores históricos e culturais.

O homem é livre de tomar decisões sobre o seu comportamento, diferindo do animal, portanto a sua responsabilidade é algo intrínseco ao ser humano e antecede a sua própria liberdade como podemos observar em três aspectos a seguir: a responsabilidade para com o outro é inevitável e obrigatória, a exigência de uma reacção responsável do meu ser perante o outro; necessidade de nos substituirmos pelo outro nas suas responsabilidades. Portanto, a ética deve ser abrangente em diversas dimensões da vida humana, como actividade livre da inteligência de cada um, sendo a avaliação das escolhas pessoais (de cada um de nós) feitas pelos outros, o que nos condiciona na liberdade de decisão. Mas estes condicionalismos, não podem nem devem isentar o homem da sua responsabilidade e obrigatoriedade, em respeitar os outros, indo ao encontro dos seus princípios éticos ou seja os seus deveres.

O homem procura conduzir o seu comportamento agindo moralmente e reflectindo sobre a sua actuação no mundo, com intenção de atingir o Bom, o Certo, o Correcto, o Justo, o Prudente, tentando convergir os valores, para um núcleo axiológico que é constituído pelo BEM.

Então, se o homem deve pautar a sua vida pelo Bem, pela liberdade, pela autonomia, ao assumir compromissos, vincula-se a alguém independentemente dele mesmo: “a própria capacidade de se obrigar revela que o homem não é plenamente autónomo”; “…o homem não existe por si mesmo, mas antes devido a outro, a quem se deve”, remete-nos para uma importante reflexão ética, indo ao encontro de comportamentos que julguem ser mais dignos e apropriados, no sentido de cumprir os seus deveres e obrigações.

O comportamento humano, tanto individual como social, não é linear e as respostas aos problemas também divergem. Os problemas práticos são resolvidos com normas e regras, formulando juízos ou argumentos para justificar os passos dados. O comportamento prático-moral remonta às próprias origens do ser humano como ser social; a reflexão surgiu milénios mais tarde, passando-se da moral efectiva para a moral reflexa e posteriormente à passagem do pensamento filosófico ou ético.

No campo da ética, a educação poderá desempenhar um papel muito importante, no sentido de “alertar” os indivíduos para a reflexão, para os princípios de justiça social, pelo respeito por si mesmo e acima de tudo pelos outros. A ética sendo tendencialmente universal, deve abranger de forma transversal todos e cada um, como princípio normativo de comportamentos e valores na educação para a vida.

Filomena Gonçalves