Sustentabilidade no século XXI


Preliminarmente tentemos definir o que é 'sustentável'. Este conceito vasto ajusta-se mal a qualquer definição simples. Entretanto, ele tem implicações "para um não especificado longo período de tempo" — digamos, "um certo número de gerações humanas". Além disso, sua imagem multifacética contem noções de 'manutenção', 'continuidade' e 'persistência'. De certa forma, podia ser "a capacidade para navegar à presente velocidade rumo a um futuro previsível".

De facto, sustentável significa diferentes coisas para diferentes pessoas. Para um político é uma palavra útil que ele gosta muito de utilizar — tal como "desenvolvimento socialmente sustentável". Para o ambientalista, ela parece de importância crítica pois ata num só conjunto a Terra à economia e ao sistema social. E, para o homem corrente, soa positiva e reconfortante: quem pensaria em apoiar a 'insustentabilidade'?

Não só o seu significado varia com os indíviduos que a utilizam como os seus reflexos diferem quando examinados do ponto de vista das principais entidades sociais existentes no planeta.

Toda a sociedade ou agrupamento humano vive num nível específico de desenvolvimento, portanto a uma dada velocidade. Falando em termos gerais, no dealbar do século XXI, a espécie humana pode ser subdividida em cinco grandes grupos: (1) pré-agrícola; (2) agrícola; (3) industrial; (4) pós-industrial; e (5) os pioneiros da era da informação.

Para cada um dos grupos acima citados, 'sustentabilidade' não só tem um diferente significado como também implicações muito diversas. No nível mais baixo do espectro, apenas ajustamentos menores podem manter o grupo numa rota sustentável. Em contraste, no nível mais alto, mesmo perturbações menores podem descarrilar o mais refinado dos sistemas. Assim, pode-se dizer que a vulnerabilidade de um grupo é inversamente proporcional à sua velocidade média. E também, como corolário, que quanto mais vulnerável for o sistema, mais instável e menos sustentável ele será se posto à prova.

É interessante verificar que os muitos ricos e os muito pobres em cada grupo não têm de se preocupar com a sustentabilidade. Os primeiros sempre poderão adquirir os pré-requisitos para sustentar o seu estilo de vida, ao passo que os últimos sempre serão capazes de prover a sua miséria.

Para a grande maioria neste intervalo, a questão da sustentabilidade acabará no fim das contas por depender da questão crucial dos futuros abastecimentos de energia.

A actual oferta global de energia é dominada pelos combustíveis fosseis: petróleo, gás natural e carvão. Mas o fardo principal cai sobre o petróleo que ainda fornece 40% das necessidades globais de energia primária.

Todo o processo de produção depende da energia. Mesmo a lavoura modesta está directamente dependente dela, tal como a agricultura plenamente mecanizada exige combustíveis e fertilizantes. As grandes indústrias tal como a automobilística, aeroespacial, química e serviços públicos são altamente intensivas em energia. E mesmo as 'novas' indústrias da era da informação consomem grandes quantidades de energia: cerca de 30% da electricidade da California é tragada pelos computadores e toda a sua parafernália.

Durante o século XXI parece inevitável o fim do petróleo (petroleum crunch) . O mundo não pode consumir 28 mil milhões de barris de petróleo bruto por ano e ilusoriamente esperar que este continue a ser 'sustentável'. Com reservas de petróleo estimadas em cerca de 1000 mil milhões de barris, é claro que dentro destas próximas décadas a oferta inevitavelmente deixará de cobrir a procura, na medida em que as reservas de petróleo gradualmente secarem.

Para o observador perspicaz, as primeiras pequenas falhas energéticas já surgiram na California (a sexta economia do mundo) e no Brasil (um dos mais prometedores países em desenvolvimento). Estes primeiros sinais de perturbação assumiram a forma de cortes de corrente: a electricidade é o Calcanhar de Aquiles da energia.

E quando acaba a luz, "voces voltam à Idade Média", segundo o Dr. Richard Duncan...

...Alguns dos provérbios populares, como "A pressa leva ao fracasso" e "Devagar se vai ao longe", não foram forjados em vão pelos nossos antepassados ao longo dos séculos. Possivelmente, um modo de vida mais lento e mais calmo poderia realmente vir a enriquecer a vida comunitária e por fim a melhorar a qualidade de vida. Será que realmente precisamos de andar cada vez mais rápido? Para alcançar quem?

Há um voto na lentidão nas campanhas anti-globalização que se espraiam por todo o mundo (como Seattle, Genova, ...). Há inegáveis sinais de que por trás do bruá-á existe uma reacção contra o super-rápido e o super-eficiente. As batalhas perfiladas parecem ser entre as "Forças da tradição" e as "Forças da velocidade". Uma luta global começou a opor o mercado aberto uma vez por semana à superloja, a padaria tradicional à fábrica de pão completamente automatizada, e o restaurante local fora de moda ao fastfood relâmpago.

Postas em perspectiva, estas são as primeiras fagulhas de uma prolongada contestação que lança a generalidade das pessoas contra a eficiência organizada. Não é preciso dizer que o resultado final deste duelo desigual está decidido de antemão: a generalidade dos indivíduos prevalecerá, como sempre aconteceu.

Todas as vezes em que é confrontado com a mais vaga sensação de insustentabilidade, o Homem instintivamente retorna às suas raízes. Quando travado nos seus caminhos por circunstâncias fora do seu controlo (como por exemplo fornecimentos de petróleo reduzidos), ele terá apenas uma forma de sair da sua difícil situação: agarrar-se àquilo que tem: suas tradições, sua história, sua cultura — numa palavra, suas 'raízes'.

Assim, com a 'insustentabilidade' a assomar bombasticamente durante o século XXI, o Homem será cada vez mais atraído para as suas fontes originais e para velocidades mais baixas — ou seja, retornará às cores e aos ritmos da Mãe Natureza.

No fim, os vencedores finais serão aqueles com raízes mais profundas — especialmente aqueles que tiveram a previsão de cuidadosamente preservarem as suas durante o turbulento século XX. E ai daqueles que perderam as suas raízes.

À escala individual, os prémios finais irão para aqueles que estão preparados para fazer os sacrifícios necessários. Além disso, aqueles que têm humildade — uma qualidade humana altamente apreciada por Deus Poderoso — atravessarão melhor do que outros os labirintos e caminhos tortuosos que estão por vir.

por A. M. Samsam Bakhtiari tradução de J. Figueiredo

Pensem nisto por momentos...

Alberto Miguel