"Um bom líder é o que não se preocupa em sê-lo"

"O que é a liderança? Há características inatas para se ser líder ou ele constrói-se a partir da aprendizagem de alguns truques ensinados nos manuais? Subversivo, questionando as teorias cristalizadas sobre liderança, Ricardo Vargas sentencia que não é uma coisa nem outra: «A liderança não existe, acontece.»

Um bom líder é, afinal, para este psicólogo, investigador e conferencista internacional, «o que não se preocupa em sê-lo, mas que o é como resultado das relações que estabelece com os colaboradores». E esta é basicamente a receita que se pode encontrar em A Arte de Tornar-se Inútil, um livro realista e bem-humorado, recentemente lançado no mercado português pela Gradiva, depois de já ter sido testado com sucesso no Brasil.

«Um chefe para ser um bom líder deve aprender a tornar-se inútil.» A provocação tem sentido: «Ele deve deixar de pensar em si enquanto centro das atenções e focar-se no desenvolvimento dos colaboradores, com o objectivo de criar equipas mais autónomas de si próprio.» Ao tornar-se «inútil» encontra a via para se libertar das tarefas operacionais e se concentrar na estratégia.

Algo que, de acordo com este consultor, especializado no desenvolvimento organizacional e na formação de líderes, enquanto representante da multinacional TMI e da sua empresa PlanB, não é muito frequente em Portugal. «Os gestores portugueses estão demasiado centrados em si próprios, em papéis operacionais e pouco estratégicos», observa.

As relações que os chefes estabelecem com os seus colaboradores e a melhor via para solucionar as disfunções no relacionamento pessoal e profissional são um tema fulcral em todo o livro, a que não é alheia a formação do autor. E é, talvez, neste ponto que esta abordagem à liderança se torna mais rica e original.

Trazendo para a esfera das empresas o contributo de uma licenciatura em Psicologia e um mestrado em Terapia Familiar e de Sistemas, Ricardo Vargas encara os problemas das equipas na mesma óptica que aborda, por exemplo, os problemas conjugais. Da mesma forma que a terapia conjugal desaconselha o julgamento e culpabilização do outro, dando prioridade à definição do problema, à análise das acções individuais e ao estabelecimento de regras para evitar a repetição da crise, a técnica é defendida também para o campo do trabalho.

Nestes casos, em que, por exemplo, um ou mais colaboradores não executam as suas tarefas de acordo com a qualidade ou o ritmo esperado, Vargas propõe aquilo a que chama uma «reunião de alinhamento de atitudes». Em contraponto com a receita usual das ordens, da coacção ou da chantagem. «Porque os comportamentos só mudam de forma sustentada se a pessoa assume e compreende que a mudança é necessária.» Esta abordagem insere-se numa corrente sistémica da terapia, que parte do princípio que o importante não é esperar a mudança profunda, mas a viabilização das pessoas, das relações de trabalho e das famílias.

A grelha de alinhamento de atitudes, coordenada pelo chefe em reunião com os colaboradores, passa ainda por perceber o porquê dos problemas, clarificar o posicionamento individual, testar a motivação dos colaboradores, planear acções e estabelecer regras. A ideia é que todos fiquem a perceber o que correu mal, porquê e como superar o problema."


Artigo de Clara Aguiar do DN Negócios, citando Ricardo Vargas ...


Porque gostei muito deste artigo transcrevi-o aqui...

Alberto Miguel