As relações humanas na Empresa

"O "ovo de Colombo" é um esquema pequeno e simples, que descreve praticamente todos os "jogos de poder" que ocorrem entre seres humanos. Para o compreender, é preciso aceitar que a interacção entre seres humanos seja, basicamente, um intercâmbio energético. Da mesma forma que nos sentimos bem com determinada pessoa e mal junto de outra, quando competimos pelo poder com outro indivíduo, em palavras ou acções, sentimos um efeito corporal agradável ou desagradável, segundo sejamos o vencedor ou o vencido.
Isto significa que uma pessoa se impõe à outra, sugando a energia, alimentando-se desta. Quando estamos cheios de energia, sentimos-nos vivos, alegres, felizes. Como não aprendemos a recolher esta energia da natureza, dos alimentos, do sol, da beleza, numa palavra, do mundo onde existe a abundância, acabamos por fazer o que aprendemos e vimos a fazer desde sempre (ou por ser mais fácil - digo eu): tomamos a energia de outra pessoa, como se fossemos vampiros que precisássemos da energia do outro, para poderemos viver mais um dia!
Imaginemos visualmente uma partida em que o campo está dividido em duas partes iguais; logicamente, corresponde a metade para cada jogador. Quando de dá a interacção entre duas pessoas de forma equilibrada e respeitosa, a energia ocupa o campo próprio, sem invadir o campo do outro, nem ser, por sua vez invadido por ele. Vibratoriamente, cada um permanece dentro de si, mesmo estando em contacto com o outro. Se a relação for realmente amorosa, a energia de ambos pode fundir-se, criando um estado "alterado" do campo energético, que se percebe como uma expansão, um bem-estar sublime, físico e anímico. Há espaço para ambos; ambos se sentem energeticamente nutridos.
Se duas pessoas lutam pelo poder, a imagem visual será outra. Um dos jogadores entrará no campo do outro, ocupando mais espaço do que aquele que lhe está atribuído, e o outro jogador encolher-se-á na sua esquina do campo. O que está encolhido é, aparentemente vítima do que está a invadir.
Vejamos o que acontece energeticamente.
Para compreendermos o que se passa, temos de saber que a energia não admite vazios. Dito de outra forma, se o jogador que se encolheu não ocupar o seu campo energético, o vazio que ele deixa atrai como um íman, a energia do outro, pois o vazio quer encher-se! Então, numa interacção o indivíduo que não ocupar o seu campo de energético estará a apelar ao outro para o invadir! Esta afirmação tem uma importância enorme.
Significa que a responsabilidade não é apenas do invasor, mas também do invadido! Significa que, se não nos responsabilizarmos pelo que nos corresponde, estamos a apelar aos outros para que nos faltem aos respeito... Se nos encolhermos, aparecerá fatalmente uma pessoa que cumpra a necessidade energética de encher o vazio que nós próprios deixámos, e seremos agredidos. Isto significa apenas que a vítima é tão responsável como o verdugo! No jogo sadomasoquista do poder, o masoquista é tão responsável pela situção como o sádico, pois atrai-o...
Esta luta pelo poder pode prosseguir indefinidamente, tendo graves consequências na vida das pessoas. Provocando, frequentemente danos irreparáveis. Pode acontecer que a própria tendência para o equilíbrio faça com que o encolhido, com o passar do tempo, encurralado e ferido, salte enlouquecido sobre o seu agressor fazendo com que o jogo mude de direcção. Aquilo que esponho de forma clara nem sempre é assim tão evidente. O mais vulgar são os jogos subtis e golpes encobertos, nem por isso menos dolorosos ou destrutivos. Na luta pelo poder, ninguém quer sair derrotado, pois isso significa perder a vitalidade e, para o evitar, utilizam-se os mais encobertos subterfúgios e golpes baixos, muitas vezes inconscientemente..."
in "O jogo da atenção" de Marly Kumerz.
Ainda que algumas chefias façam uso do velho esquema de Maquiavel... "espalha o medo se queres reinar", pois fiquem sabendo que só consegue de facto reinar se nada fizerem para evitarem que ele entre energeticamente no vosso lado. Muito gente pensa que uma forma de evitar isso é dando-lhe ainda mais protagonismo, mas isso pode parecer que resolve momentaneamente mas fará com que o seu ego cresça mais.
Então o que fazer? - perguntaram alguns...
Agora repara bem numa coisa... Quem sente o medo? Quem não sabe enfrentar as situações? Quem se julga o elo mais fraco? Pois...
ÉS TU...
Se eliminares o medo da tua relação, vais ver que não vais deixar qualquer espaço para que qualquer acção que a tua chefia possa exercer contra ti te faça sentir mal. Tu sabes que é assim e por isso, em silêncio e concentrado no teu trabalho para o realizares da melhor maneira, celebra todas a vitórias que conseguires no teu lado do "tabuleiro do jogo". Não permitas que a tua relação extravase o campo profissional e as tuas funções e lembra-te que o teu silêncio será o melhor escudo protector e que acabará por impor o respeito por ti.
Se mesmo assim não conseguires suportar a pressão da chefia, então só terás uma alternativa, é mudares de posto de trabalho ou até de emprego. Lembra-te que neste processo de crise há sempre um oportunidade bem melhor que ainda não descobriste.
Para as chefias que entendam ser este o melhor estilo de liderança, o autoritarismo, entendam de uma vez por todas que os maiores activos de uma empresa, organização ou departamente são os seus colaboradores. Tomem consciência que sem eles nem chefias seriam e que ainda por cima o vosso desempenho enquanto responsáveis, depende largamente do desempenho de cada um. Então escolham: Querem ter cada um a trabalhar por si? Querem ter elevados índices de rotatividade ou de absentismo? Querem viver num ambiente hostil ainda que gostem da subserviência e dos "lambe botas"? Acham que é assim que conseguem o melhor desempenho deles?
Claro que não... Então não lhes incutam o medo, não abusem do vosso poder para fins pessoais, dêem o exemplo e serviam os vossos colaboradores ensinando-os a serem cada vez melhores. Desenvolvam o espírito de equipa sem no entanto serem paternalistas. Respeitem a individualidade de cada um e reconheçam as suas competências. Aceitem o erro como fazendo parte do seu processo de aprendizagem, mas sejam implacáveis com o erro repetitivo. Aceitem que cada um dos vossos colaboradores pode ter um potencial ainda maior e que para o despertar muitas vezes apenas é necessário uma simples e genuina palavra de incentivo.
Assim será um líder respeitado e amado por todos. Todos sem excepção irão dar-lhe o seu apoio pois o verão como "o seu Mestre".
Alberto Miguel