Educação e Equidade na Sociedade Contemporânea


A sociedade globalizada e globalizante, marcada por mutações constantes, faz emergir a necessidade de desenvolver políticas educativas, capazes de responder aos desafios impostos pela revolução tecnológica e pela sociedade do conhecimento. Este profundo processo de transformação, despoletou novas formas de organização social, económica e política.

Estes aspectos traduzem-se na adopção de um novo paradigma educacional, versando a necessidade de aquisição de novas competências (rompe-se com a racionalidade, porque deixou de responder às necessidades sociais) para fazer face às exigências do mercado de trabalho, caracterizado por importantes processos de transformação, nomeadamente no modo de produção, nas tecnologias da comunicação e na democracia política. Este modelo económico e empresarial exige do sistema educativo, uma aposta na diversidade dos seus conteúdos, adaptando-os às exigências do mercado global e acima de tudo a investir no capital humano, na igualdade de oportunidades, na democratização do acesso à educação, tendo em conta o sucesso na integração do mercado de trabalho.

Exigem-se práticas pedagógicas que se enquadram no paradigma humanista (os trabalhadores tem que pensar, reflectir, fazer, adaptar e renovar, reagir aos choques tecnológicos), a promoção da inteligência geral, deixando para trás o ensino baseado somente na preocupação de aquisição de conhecimentos. Esta revolução desenvolveu uma nova realidade social a que a educação se deve sustentar em princípios basilares e edificadores, no sentido da construção da própria pessoa. Esta construção assenta em quatro pilares, tal como defendido no relatório elaborado por Jacques Delors:

Aprender a conhecer: adquirir e desenvolver os instrumentos de compreensão e trabalhar determinado número de assuntos. Também significa aprender a aprender, para beneficiar das oportunidades oferecidas pela educação ao longo da vida.

  •  Aprender a fazer: novas qualificações profissionais, novos desafios para enfrentar numerosas situações e trabalhar em equipa.
  • Aprender a viver juntos: desenvolver a compreensão do outro e a percepção das interdependências, fruto da globalização.
  • Aprender a ser: desenvolver a sua personalidade no entido de abertura a si e aos outros, a autonomia, o discernimento e a responsabilidade pessoal.
Alunos e professores devem adoptar uma postura flexível e aberta a novas aprendizagens, assumirem o compromisso da aprendizagem ao longo da vida, de acordo com a sociedade multicultural e global, uma realidade cognoscível de todos os indivíduos.

Mas, maior desafio para o sistema educativo, prende-se com a necessidade promover uma visão integradora dos saberes e da urgência de “colocar o ser humano e o planeta no centro do ensino”, defendido por Edgar Morin, encontrar a forma de contornar a profunda inadequação entre de um lado os saberes desunidos, divididos e compartimentados, e de outro as realidades ou problemas multidisciplinares, transversais, transnacionais, nacionais e planetários. A era planetária, evidencia a massificação dos conhecimentos, mas a sua pertinência prende-se em conseguir ter acesso às informações sobre o mundo, como saber articulá-las, usá-las, no contexto complexo, global e multidimensional, pois sem esta articulação, o conhecimento reduz-se a formas de saberes desadequados que não produzem o desenvolvimento pessoal nem colectivo. A escola do futuro, deverá produzir uma reforma de pensamento, no sentido de reorganizar o ensino e os saberes de forma integrada, articulada, organizada, conhecer e reconhecer os conhecimentos.

Os saberes devem estar em contexto com a sociedade para adquirirem sentido e eficácia. Deve reconhecer a relação entre as partes e o todo, o todo e as partes do conhecimento, as suas qualidades e propriedades, ou seja o global. A sociedade como um todo está presente em cada indivíduo, ou seja o todo do qual faz parte e que ao mesmo tempo faz parte dele. O multidimensional não se pode dissociar do indivíduo nem da sociedade, pois ambos tem dimensões específicas e intrínsecas, e o conhecimento pertinente deve reconhecer este aspecto, e integrá-lo num todo, respeitando as suas especificidades. Outro desafio que se impõe ao ensino é a complexidade inerente à era planetária, dotando os indivíduos de capacidades de interacção e fusão nos diversos domínios social, económico, politico, afectivo, psicológico, sociológico ou seja promover a união entre a unidade e a multiplicidade. Assim, a educação deve promover a inteligência geral, tornado os cidadãos críticos e intervenientes, flexíveis e acima de tudo deve facultar competências diversificadas, para responder ao global e ao multidimensional.

Em síntese, penso que a educação e as profundas transformações sociais determinaram a necessidade de um novo paradigma educacional, dirigido para os indivíduos de forma aberta e responsável, construtivista, apostado na pessoa humana, nos valores e na pertinência do conhecimento. Há que dotar de competências pedagógicas e profissionais, motivar a aprendizagem ao longo da vida e articular os diversos tipos de conhecimentos técnicos e empíricos, na construção do Ser individual e social.

Filomena Gonçalves