Ensino a Distância


Na sociedade actual, marcadamente tecnológica, emergem novos paradigmas e conceitos sobre o que é o ensino e aprendizagem. As exigências de uma aprendizagem continuada e com significado para a vida das pessoas, despoletou a discussão entre formas e metodologias na de aprendizagem, tendo o Ensino a Distância um papel fundamental nesta reflexão. Antes de tudo convém referir que a educação é um processo que ocorre ao longo da vida, e que os papéis dos intervenientes se foi alterando muito com a introdução e mediação das tecnologias no processo formativo. O ensino a distância tem lugar num cenário educativo que pode ser categorizado como potenciador da educação formal, informal e não formal, assumindo uma nova abordagem pedagógica. Adopta momentos de formação síncronos e assíncronos, utiliza fóruns, chat, partilha de recurso, formas e estilos diferentes, que devem ter em conta. Este tipo de ensino é dirigido a adultos, quer pela sua especificidade no que concerne à utilização de tecnologias, na auto-determinação e na motivação intrínseca que deve estar associada à adultez. Educar já não significa transmitir informação ou conhecimentos, antes cooperar e partilhar o conhecimento.

De forma muito sucinta, o ensino a distância enquadra-se num processo de ensino aprendizagem mediado por tecnologias onde professor e alunos estão separados espacial e temporalmente, exercendo comunicação através das tecnologias de comunicação, sendo a internet a mais abrangente. A aprendizagem também se pode complementar com a utilização de CD Rom, televisão, livros, telefone, fax, entre outros recursos. As primeiras formas deste tipo de ensino era muito pobre no sentido de que a aprendizagem era unidireccional, a interacção pouco expressiva e instrutivista. O avanço tecnológico revolucionou esta forma de aprender/educar, tornando a educação um processo activo e de permanente (re)construção através das tecnologias de comunicação virtual tais como: internet, videoconferência, redes de alta velocidade, podendo comunicar em tempo real com som e imagem. Destas transformações foram aparecendo as chamadas gerações de ensino a distância, sendo a 1ª geração (através do ensino por correspondência) até à actualidade, conhecidas até 3ª ou 5ª geração, dependendo de conceitos de vários autores.

O ensino a distância foi sofrendo grandes transformações, sendo a 2ª geração ou geração multimédia, caracterizada por uma aprendizagem instrutiva aliada à palavra escrita ou impressa, juntando-se outros media: rádio, televisão, vídeo e audiocassetes. Do ponto de vista comunicacional a relação entre professor/aluno é muito empobrecida. O telefone é o meio mais célere de interagir ou comunicar. A tecnologia assume papel de mediadora, não cumpre papel social e cria uma grande distância transacional. Os meios tecnológicos e os recursos não são suficientes para tornar o aluno autónomo nem desenvolve papel activo na construção do processo formativo. “Segundo Nipper, na 1ª e 2ª geração tecnológica o processo de ensino/aprendizagem nos modelo de ensino a distância é encarado como uma questão de "distância geográfica" que é necessário ultrapassar e cuja resolução passa simplesmente pela implementação de meios efectivos de apresentação e distribuição de conteúdos, não sendo considerada a aprendizagem como um processo social, exigindo forte interacção professor/aluno e destes entre si.”
A comunicação é unidireccional e quer o professor quer o aluno, adoptam um papel secundário no processo educativo.

O modelo de 3ª geração, traduz uma maior riqueza conceptual e pelas características considero ou seja um modelo centrado no aluno, tendo como grande mudança a educação em rede, que “consiste na valorização da comunicação e da aprendizagem como um processo social, tratando-se de uma questão não só tecnológica mas também instuticional e pedagógica (cf. Nipper: 1998: 64-65). É a geração de modelos de educação a distância tendo como tecnologias de suporte à comunicação redes de computadores e de telecomunicações, com forte incidência na comunicação em grupos.”
A educação de adultos obedece a um conjunto de requisitos ou seja a forma como estes percepcionam a valorização das suas experiências passadas, depende dos seus filtros perceptivos e culturais. No EaD estes aspectos têm que ser tidos em conta, orientando a aprendizagem para o aprendente, sendo a identificação das experiências prévias do estudante, muito relevantes no desenvolvimento num curso online. “Em contextos mais complexos, a maior parte das pessoas aprende concentrando-se no significado da aprendizagem e na integração dos novos conhecimentos naqueles que já possuía.”

Esta abordagem apela ao construtivismo, ao metacognitivismo numa perspectiva interaccionista sociopsicológica, colocando o aluno no centro do desenvolvimento do seu processo formativo, versando a pessoa de forma holística e integradora.

Esta forma de aprender, cria ambientes centrados no conhecimento, no aprendente, na comunidade, isto através das interacções e da colaboração que estas criam transversalmente nas comunidades virtuais (comunidades de aprendizagem) que se vão desenvolvendo, na interdependência, na consecução de atingir objectivos comuns e partilha de saberes e conhecimentos. O professor “veste” o papel de facilitador e mediador e o aluno tem um papel activo, através da resolução de problemas, de pensamento crítico, de reflexão, associando o novo conhecimento ao anterior, através do intercâmbio entre a aprendizagem concreta e a aprendizagem abstracta. Este tipo de abordagem proporciona ao aprendente desenvolver “as estratégias metacognitivas delineadas pelo próprio aluno porque partem da sua vontade de perceber os seu próprio processo de aprendizagem, isto é, o aluno pergunta-se: - O que aprendo? Como, quando e porquê aprendo?” esta intencionalidade dá sentido às aprendizagens e respeita a identidade pessoal e o sentido de comunidade.

O ensino a distância deve ser perspectivado como uma nova abordagem pedagógica, como que uma redescoberta da aprendizagem enquanto processo mediado socialmente, onde as tecnologias exercem o papel de mediadoras e a aprendizagem decorre em qualquer sitio e a qualquer hora, criando verdadeiras comunidades virtuais, partilhando conhecimento, relações sociais, desenvolvimento cognitivo e autonomia. O sucesso deste tipo de educação não depende só das tecnologias, mas o seu foco principal são os aspectos relacionados com a organização e os aspectos pedagógicos, tendo como objectivo a construção do conhecimento partilhado e colaborativo.
 
Filomena Gonçalves